Deficiência na tireóide leva ao ganho de peso?

Deficiência na tireóide leva ao ganho de peso?
Engordar de uma hora para outra sem aumentar o consumo calórico pode ser um dos sintomas do hipotireoidismo, doença que deve ser controlada com reposição hormonal

por Mariana Viktor


Cansaço sem motivo aparente, rouquidão, déficit de memória e da capacidade de concentração, fraqueza, desânimo, câibras e dores articulares, intestino preso, diminuição da libido, taquicardia, alterações menstruais, pele ressecada, unhas e cabelos quebradiços, baixa freqüência cardíaca, inchaço por retenção de líquido, depressão, irritabilidade e aumento de peso. Se você tem alguns desses sintomas e ainda não localizou a causa, saiba que eles podem ser provocados pelo hipotireoidismo, uma deficiência na atividade da tireóide - glândula em forma de borboleta localizada no pescoço.

Tantos sintomas se explicam: "Os hormônios produzidos pela glândula tireóide - o T3 e o T4 - atuam na recalcificação da matriz óssea, na contração muscular, na estabilização de impulsos elétricos no sistema nervoso, no metabolismo das gorduras, no ritmo cardíaco e no fluxo sangüíneo", explica o endocrinologista carioca Tércio Rocha, da Sociedade Internacional de Medicina Antiidade. "É lógico que o déficit de hormônio tireoidiano afete o equilíbrio do organismo como um todo."

Nem sempre todos esses sintomas se manifestam juntos - se você apresentar cinco deles, ou mais, deve considerar a possibilidade de ter o problema. Além disso, embora eles sejam os mesmos para qualquer tipo dessa doença, sua intensidade varia conforme o estágio. "Eles aumentam em quantidade e intensidade na medida em que se agrava a deficiência hormonal, pois o avanço do hipotireoidismo costuma ser gradual", diz Claudia Cozer, doutora em Endocrinologia pela Universidade de São Paulo (USP), médica da diretoria da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), de São Paulo.

Medicamentos para emagrecer: cuidado

Uma causa comum é o uso de certos medicamentos. Fórmulas para emagrecer feitas à base de hormônios sintéticos que aceleram o metabolismo e favorecem a perda de peso, por exemplo, acabam afetando o funcionamento da tireóide e podem desencadear a doença em glândulas consideradas saudáveis.

Uma pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), realizada no ano passado, destacou a alta incidência do mal entre as brasileiras e constatou que 34% das mulheres doentes fizeram uso dessas "bombas hormonais" para emagrecer. O lítio, medicamento psiquiátrico, e a amiodarona, para o coração, também podem levar ao hipotireoidismo.

A doença nem sempre representa quilos a mais

Quando alguém ganha peso aparentemente sem motivo e apresenta outros sintomas típicos associados, a primeira hipótese a ser investigada é a de hipotireoidismo, que reduz o metabolismo e leva o organismo a reter líquido. Foi o caso do jogador de futebol Ronaldo, do Milan, da Itália, que foi cobrado pela mídia e pelos fãs por descuidar da forma física. "Mas nem todo mundo que sofre dessa alteração hormonal da glândula tireóide engorda", observa Tércio Rocha. "O ganho de peso costuma ocorrer com cerca de 70% dos pacientes", enfatiza o endocrinologista do Rio de Janeiro, RJ.

Normalmente, são atacadas as mulheres acima de 40 anos e até pouco tempo atrás acreditava-se que o mal atingisse apenas 2% ou 3% da população. Porém a mesma pesquisa pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) mostrou outra realidade. Patrocinado pelo laboratório Abott, o estudo revelou que 12% das brasileiras têm a doença, o percentual mais alto do mundo - e o mais grave é que a maioria desconhece o fato. Das 1.500 mulheres entrevistadas (entre 35 e 85 anos de idade) apenas 30 sabiam da alteração na glândula.

Um tipo raro do mal

O que afetou o atacante Ronaldo atinge 50% das mamães no pós-parto e muita gente após os 30, 35 anos de idade (na proporção de três mulheres para cada homem) é o chamado hipotireoidismo subclínico. Trata-se de um estágio prévio da doença e que por isso costuma passar despercebido aos médicos menos atentos ou que desconhecem essa fase. Também chamado de Insuficiência Tireoidiana Mínima (ITM), caracteriza-se pelo aumento gradual dos valores de TSH, seguido de sua diminuição. Como o processo pode levar meses ou anos, o ideal é fazer exames de dosagem ao menos a cada cinco anos, caso haja alguma alteração no primeiro exame. Neste caso não há sintomas específicos. "Muitos se queixam de dormir mal e acordarem cansados, diminuição da libido, desânimo, irritação, inchaço, depressão e até agressividade. Não raro, essas pessoas tomam antidepressivos e vitaminas ou fazem tratamento ortomolecular para combater esse quadro, mas o que existe de verdade é um problema na glândula", diz o endocrinologista Tércio Rocha. "Se o paciente tem mais de 30 anos e apresenta esses sinais - além de uma taxa de hormônio TSH maior que 2.2 ou 2.3 -, provavelmente sofre de hipotireoidismo subclínico. É interessante avaliar os níveis dos outros hormônios, como o T3 e o T4, e realizar uma dosagem dos anticorpos que afetam as estruturas da tireóide", orienta.
Um só tratamento

Independente da causa ou do tipo de hipotireoidismo a solução é controlar os hormônios. "A reposição hormonal utiliza a levotiroxina, um hormônio sintético conhecido como T4", orienta a doutora em endocrinologia Claudia Cozer. "Ele deve ser tomado indefinidamente, exceto nos casos do hipotireoidismo transitório - que acontece na adolescência, no pós-parto ou quando a pessoa suspende o uso de medicamentos que inibem o funcionamento da glândula", complementa a especialista. Às vezes a tireóide também volta a funcionar quando cessa a ação de determinados vírus e bactérias.

"Nem todo mundo que sofre com a alteração hormonal dessa glândula tem sobrepeso

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